TRUMPF: Investimento na alta tecnologia alemã
Referência em tecnologia a laser no Brasil e no mundo, a Trumpf atribui o sucesso obtido junto ao mercado à alta performance de seus equipamentos; resultado do elevado know-how e do rigor na qualidade, que conferem precisão e confiabilidade à toda a sua linha de produtos. Um fato que atesta sua destacada posição em seu segmento, foi vencer a concorrência para fornecer o Laboratório de Excelência em Tecnologia de Soldagem para o Senai RJ, um equipamento inédito na América Latina.
Era um período difícil para o mercado brasileiro quando o Grupo alemão desembarcou no Brasil. Na época, o país que acabara de viver a expansão econômica da década de 70 entrara no período posteriormente conhecido como a década perdida. A estagnação econômica vivida em toda a América Latina foi o cenário de entrada do Grupo Trumpf no Brasil, em 1981, quando foi aberta a primeira subsidiária da empresa em São Paulo. Poucos anos depois, a empresa daria um passo ainda maior com a instalação de uma fábrica em Itapecerica da Serra (SP), onde desenvolveu seu próprio laser de CO² de 1kw.
Desde então, a tecnologia alemã garante que a marca seja uma das principais no mundo dentro do segmento em que atua. O carro-chefe da empresa é a fabricação de máquinas de corte a laser para processamento flexível de chapas metálicas e o fornecimento de sistemas que usam o laser como ferramentas de manufatura, como deposição de material, tratamento de superfícies, marcação a laser e solda a laser. Completam esta linha uma série de puncionadeiras (estampadeiras) e dobradeiras com Comando Numérico Computadorizado (CNC).
O equipamento foi desenvolvido pela Trumpf com características construtivas e de tecnologia embarcada de última geração. A célula permite a solda híbrida – combinação de dois processos de soldagem (MIG, que utiliza fio de cobre, estanho ou alumínio, e o laser) em uma única aplicação – acelerando não só a velocidade bem como a qualidade final do trabalho e diminuindo etapas do processo.
O equipamento permite ainda utilizar o processo de solda por deposição em materiais do tipo CRA – Corrosion Resistant Alloys – usados na indústria de óleo e gás, muito importantes na exploração de águas profundas, como o pré-sal, e no mercado brasileiro como um todo. Também é possível fazer a solda laser convencional, com a vantagem de poder utilizar a máxima da potência laser para solda de materiais mais espessos, características de aplicação nas indústrias naval e de óleo e gás. Segundo o diretor geral da Trumpf no Brasil, João Carlos Visetti, a solda híbrida é capaz de soldar expessuras maiores sem que seja necessário soldar pelos dois lados. A tecnologia já é aplicada na indústria naval, principalmente para a solda de painéis de navios, no exterior, onde já é fabricada em escala industrial.
“Se você precisa de dez máquinas, você só terá seis.”
“Se essa tecnologia vier a ser adotada, o potencial de vendas de equipamentos no Brasil é enorme, daí precisaremos de parcerias – como já existe lá fora – para fazer em escala produtiva”, diz Visetti. Para ele, o Brasil tem potencial para ser um grande consumidor deste equipamento, “porque temos uma necessidade muito grande de apoio de navios e plataformas”, além da importância e o crescimento da indústria naval no país.
Mercado
O Grupo tem quase 10 mil colaboradores e está presente em mais de 60 países. Há mais de 30 anos no Brasil, por aqui ela fabricou puncionadeiras até a abertura de mercado no país quando não havia outra alternativa e importar não era possível. Depois disso, fabricar não fazia mais sentido e todos os equipamentos vendidos vinham das fábricas do exterior. Hoje, a Trumpf do Brasil é responsável pela área de serviços e treinamento na América do Sul, na sede em Alphaville (SP). O local concentra o estoque de peças de reposição, showroom, administração geral, de vendas e de serviços. Ela conta com representantes comerciais em cinco Estados e centros de assistência técnica localizados estrategicamente nas regiões espalhadas pelo país.
No último ano fiscal, 2013/2014, a empresa faturou no mundo 2,5 bilhões de Euros. No Brasil, ela foi responsável pela venda de quase 50% das máquinas de corte a laser que entraram no país, de acordo com a empresa. Segundo Visetti, das 110 máquinas importadas com essa especificidade, 52 eram Trumpf e o restante foi trazido por outras dez marcas do segmento.
Com clientes como Marcopollo, John Deere e AGCO, a qualidade, a performance e a assistência se tornaram os principais elementos do sucesso da marca, de acordo com o diretor. Quando se refere a suas máquinas, Visetti é enfático: produtividade, acima do custo. “Se você precisa de dez máquinas, você só terá seis”, afirma. Ele reconhece que o investimento inicial é alto, em função da tecnologia aplicada, mas que o retorno vem com a alta produtividade e com o tempo.
O cálculo é simples: valor agregado x custo de mão de obra. Entretanto, principalmente em uma época de incertezas econômicas, os empresários têm medo de investir. Enquanto a automação de processos industriais é a tendência mais natural com o aumento de tecnologia em máquinas e equipamentos, muitos empresários temem o alto investimento em máquinas high-tech importadas. Assim, se apoiam em financiamentos para equipamentos de custos menores e, geralmente, produtividade inferior.
“O brasileiro não pensa numa empresa hoje para 50 anos ou 100 anos, ele pensa numa empresa hoje para ganhar dinheiro em dois anos”, fala. Para Visetti, a ausência de uma política industrial no Brasil prejudica toda a indústria.
“O mercado hoje ainda não pensa em soluções produtivas, ele pensa em valor de investimento.”
“O mercado hoje ainda não pensa em soluções produtivas, ele pensa em valor de investimento”, afima. Visetti lamenta que muitos empresários ainda pensem dessa forma e acredita que parte disso é por empresas serem administradas por fluxo de caixa e não rentabilidade. De olho nisso, várias empresas tentaram, sem sucesso, fabricar equipamentos com essa tecnologia no Brasil com o intuito de atender a demanda suprida hoje por marcas globais.
“O mercado brasileiro é de 100 a 150 máquinas/ano, comparado com o que se produz é muito pouco para você realmente ter uma produção eficiente de máquina a laser [no Brasil]”, conta. A Trumpf produz somente na Suíça, quatro máquinas por dia de 3 m x 1,5 m e uma de 4 m x 2 m. Nos Estados Unidos, são fabricadas, por dia, duas máquinas 10 m x 30 m e uma de 30 m x 30 m. Já a planta na China faz, em média, uma máquina por dia para alimentar o mercado chinês. Há ainda a planta da Alemanha, que produz diferentes equipamentos.
Para se diferenciar no mercado, além do know-how da tecnologia que trazem no nome, a venda de soluções completas, atendimento técnico na pré-venda e no pós-venda garantem à empresa a fidelidade de seus clientes. Para garantir uma assistência técnica de qualidade, o atendimento foi regionalizado e 60 técnicos foram espalhados pelo país. A empresa também optou pela oferta de técnicos residentes.
Segundo Visetti, a vantagem de ter um técnico residente é o fato de ele estar sempre operando e fazendo manutenção. “Ele fica 50% do tempo no cliente e nos outros 50% ele está resolvendo problemas em volta”, explica. Qualquer empecilho, outro técnico é enviado ao local. “Assim, o cliente tem sempre os equipamentos com a manutenção em dia”, ressalta.
O diretor conta que a empresa foca na venda de soluções completas e considera o serviço de manutenção parte importante para a venda. “Toda nossa equipe de vendas é capacitada para isso, mas a receptividade por parte dos clientes é muito pequena”, diz Visetti ao se referir à prestação do serviço pós-venda.
Outra inovação para a empresa foi a inserção de uma equipe de engenharia de aplicação. Um grupo de três engenheiros que desenvolve projetos especiais em cima das máquinas disponíveis de acordo com a vontade do cliente. “Se o cliente automatizar, por exemplo, eles fazem projetos de automação, ajudam o cliente na definição do ferramental, como otimizar produção, usar ferramentas especiais. Reforçam o que a equipe de vendas já ofereceu na linha de frente”, explica o diretor.
Além disso, a empresa oferece um Centro de Treinamento, na sede em Alphaville, para seus clientes. Nele há uma sala de treinamento para uso de softwares e tecnologias de corte. Visetti entende que o ideal é que a parte teórica seja ensinada na matriz e a parte prática seja realizada na máquina do cliente.
Pesquisa e desenvolvimento
Para chegar a excelência em tecnologia reconhecida em todo o mundo, a empresa investe quase 10% do seu faturamento em pesquisa e desenvolvimento. Neste ano, serão investidos mais de 200 milhões de Euros, conta o diretor.
Reestruturação da Trumpf Brasil
Há quatro anos, o Engenheiro Eletricista João Carlos Visetti assumiu o comando da Trumpf do Brasil. O atual diretor entrou e se posicionou para reestruturar a marca no mercado, bem como a gestão interna da companhia. A mudança assustou muitos funcionários na época, que não se adaptaram, mas também trouxe bons resultados.
“Acessibilidade” e “proximidade” são as palavras que definem a gestão. “A empresa era fracionada, pessoal de vendas não falava com o de serviço. Unimos isso, reogarnizamos a estrutura de serviço, a regionalizamos. As mudanças resultaram, além de uma equipe mais engajada e próxima, no dobro do faturamento. Saímos de uma rentabilidade medíocre e com prejuízo, e passamos a ter uma rentabilidade dentro dos parâmetros esperados pelo Grupo. A Trumpf levou 25 anos para vender 500 máquinas e levou mais cinco anos para vender outras 500 e agora, em menos de quatro anos, estamos vendendo mais 500, que será celebrado ainda neste ano”, comemora Visetti.
Synchro
Ao longo dos anos, as mudanças não foram exclusivas para a Trumpf do Brasil. Uma das fábricas modelo da empresa, na Suíça, deu partida à mudança do processo inteiro de fabricação ao longo dos últimos dez anos. “A gente saiu de uma máquina e meia [produzida] por dia, para quatro máquinas por dia da mesma linha e no mesmo espaço físico”, conta Visetti. O segredo foi adaptar a filosofia Synchros, comum em linhas de produção do segmento automotivo, para a realidade da empresa. O Synchros Lean Manufacture tornou o processo produtivo enxuto, como o próprio nome sugere “manufatura enxuta”.
“O conceito do Synchro é ‘elimine desperdícios’. E desperdícios você encontra não só na área de produção, mas em qualquer área da empresa”.
“Neste ano serão investidos mais de 200 milhões de Euros.”
“O conceito do Synchro é ‘elimine desperdícios’. E desperdícios você encontra não só na área de produção, mas em qualquer área da empresa. Por exemplo, se você chega atrasado à reunião, você desperdiça o tempo dos que chegaram no horário”, explica Visetti.
Ele explica que antes, a máquina ficava parada e tudo ía até ela, criando assim um grande fluxo de material cruzado. Havia uma grande movimentação de material, enquanto hoje as áreas são separadas, uma para preparo e outra para uso.
Na página da Trumpf – América do Norte há um espaço dedicado para explicar o conceito criado pelo sistema Toyota de produção e adaptado à empresa alemã: o eixo central da Synchro é o conceito Kaizen, o princípio da melhoria contínua. Apenas os produtos que são imediatamente necessários ou podem ser imediatamente vendidos são produzidos. Isso evita o excesso de produção de armazenamento. Durante a execução, os princípios adicionais e métodos adequados têm de ser continuamente seguidos. Os funcionários são importantes para que o processo seja realizado corretamente e na hora certa. Procedimentos padronizados, logística simples e equipamento operacional inteligente garantem um fluxo de trabalho suave.
“A Trumpf adaptou esse processo à realidade dela, ele é muito bom para fazer coisas seriadas. A Trumpf é customizada, então uma máquina que sai da linha pode ter o mesmo modelo, mas ela não é igual a outra, ela tem vários opcionais que podem ser adicionadas ou não. Então aquela máquina é montada para aquele cliente, coisas que precisam para ela chegam somente no momento em que ela está sendo montada”, exemplifica o executivo.
Todos os processos são orientados de acordo com o Synchros. Os processos no dia a dia de trabalho são reavaliados. “Você vê onde tem desperdício, porque se seu tempo não é produtivo, não está adicionando valor ao seu trabalho ou ao seu cliente, então você elimina isso”, conta.
Visetti diz que o grande segredo é one piece flow (na tradução livre, ‘fluxo de uma peça’). “Você faz tudo que precisa para fabricar uma peça, é o que todo mundo adoraria atingir, mas obviamente isso nem sempre é possível, porque você não tem mais estoque de peças, você trabalha com menos espaço, você movimenta menos material”, comenta.
Recentemente, a empresa investiu 8 milhões de euros em um centro de usinagem totalmente automatizado com robôs para diminuir os lotes de fabricação. “Hoje, ela (planta da Alemanha) fabrica o que precisa para o dia seguinte para que a gente consiga ter flexibilidade e baixo tempo de set up para fabricar lotes pequenos, para reduzir a movimentação desnecessária de material e evitar grandes lotes e a criação de estoque desnecessário”, explica Visetti.
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