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Setor de soldagem aposta em qualidade

Atentas à competitividade, empresas focam em qualificação profissional. Normas internacionais e específicas também são consideradas.

No início do século XX, mais precisamente em 1904, a solda como parte de processos de fabricação foi criada oficialmente a partir da invenção do eletrodo revestido por Oscar Kjellberg – também fundador, anos mais tarde, da ESAB, líder mundial em soldagem. Ao longo do tempo, inúmeras aplicações e processos de união de materiais em escala atômica foram desenvolvidos com base na inovação tecnológica e demandas do mercado. Abrangendo a cadeia automotiva, o setor de óleo e gás, a fabricação e recuperação de peças, equipamentos e estruturas, a soldagem se consolida hoje como principal etapa em quase todos os segmentos industriais. No entanto, pouco mais de 100 anos após sua criação, a área passa, em nível mundial, por uma revisão de sua gestão da qualidade, enfrentando desafios como melhorar cada vez mais as propriedades da solda, facilitar a execução da tarefa para o soldador, aplicar normas de qualidade e, não menos importante, qualificar os profissionais nas diversas categorias – desde o soldador até o engenheiro de soldagem.

De acordo com a norma NBR ISO 9000 para sistemas de qualidade, a soldagem é um processo especial que, dependendo da complexidade e responsabilidade da construção soldada, requer métodos de controle (abrangendo as atividades de projeto, de seleção dos materiais, de fabricação e de inspeção) a fim de garantir que a qualidade especificada seja atingida. Em outras palavras, isso significa que não é possível assegurar que o processo de solda seja satisfatório apenas pelo controle do produto final. Exige-se acompanhamento posterior ao pós-venda, desenvolvimento e aprimoramento de equipamentos e métodos de monitoramento, além da simplificação e segurança das etapas de soldagem para o próprio soldador. Por conta dessas especificidades, o setor conta com diversas normas (como a ISO 14731:2006) que orientam os requisitos da qualidade para a soldagem, mas com o foco apenas na construção final. A padronização mais completa até o momento, quando o assunto é gestão da qualidade, é contemplada na ISO 3834:2005. Esta norma amplia requerimentos de qualidade para soldagem por fusão de materiais metálicos e define controles sobre todos os aspectos da operação, definindo tarefas, níveis de preocupação dos processos, responsabilidades, conhecimentos requeridos para os profissionais, documentação de material, incluindo análise de parâmetros operacionais do processo (como tensão, corrente, velocidade de alimentação etc.). Entretanto, a norma ISO 3834:2005 ainda é pouco conhecida e utilizada no Brasil.

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Américo Scotti, professor da Faculdade de Engenharia Mecânica da Universidade Federal de Uberlândia (UFU) é um dos defensores da divulgação desses padrões mais específicos, apesar de destacar diversas barreiras para sua adoção. Elevação de custos, tempo e burocracia são alguns fatores que impedem esses avanços nas empresas brasileiras. “Sem contar a dificuldade de entendimento das regras e discordâncias entre contratantes e contratados na sua aplicação”, explica o pesquisador.

Por falar em avanços, Scotti é enfático ao abordar a necessidade de qualificação profissional em soldagem no país, com cursos voltados para o cargo de entrada no mercado – no caso, o soldador – indo até o curso de engenheiros de soldagem, passando por técnicos e inspetores. “A tendência é apostar em novas tecnologias, como a robótica e automatização dos processos. Os profissionais precisarão acompanhar essa evolução para tornar nossa indústria mais competitiva”, afirma o professor.
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Como sugestão, ele aponta cursos de especialização em universidades – a UFU é uma delas – e cursos de pós-graduação ou preparatórios para a certificação internacional da IIW (International Institute of Welding), oferecidos pela ABS (Associação Brasileira de Soldagem).

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José Roberto Domingues, gerente técnico de consumíveis da ESAB, empresa líder mundial em soldas, concorda que sem qualificação o Brasil deve parar no tempo nos quesitos qualidade e inovação. Hoje, a empresa produz e fornece produtos e equipamentos para, praticamente, todas as aplicações de soldagem e corte, incluindo projetos específicos e que envolvem produção em escala menor. “Além do nosso acesso às tecnologias de ponta por canais de informação no exterior, o investimento em treinamentos internos e externos para nossos funcionários é constante, especialmente para cursos de pós-graduação”, explica o gerente.

No caso dos soldadores, a ESAB prioriza a capacitação interna, conduzida por engenheiros e técnicos que disseminam normas e códigos de fabricação para cada segmento atendido. Todo o trabalho é supervisionado pelo Grupo de Desenvolvimento de Produtos e Mercados, formado por engenheiros e técnicos conectados com segmentos-chave como óleo e gás, transportes, siderurgia e energia. O time tem o propósito de adequar a produção exatamente ao que o cliente busca em termos de qualidade, preço e aplicação. Durabilidade do produto, facilidade de aplicação, otimização da produtividade, garantia de propriedades mecânicas e resistência a fatores ambientais são questões levadas a sério no processo de gestão da qualidade na ESAB. Nesse sentido, Domingues aponta mais um desafio: a falta de soldadores no ramo, não obstante os salários atraentes oferecidos por grandes empresas. Isso sem contar as chances reais de crescimento na carreira. “Mesmo com a automatização de diversos procedimentos, precisaremos desse perfil – cada vez mais raro – para lidar com as inovações e minimizar erros”, pondera. A ESAB, inclusive, procura trazer produtos cada vez mais aplicáveis ao soldador, ou seja, de forma amigável, sem muitos graus de dificuldade. “Qualidade em soldagem, hoje, é sinônimo de facilidade de utilização da solda, elevando índices de produtividade”, conclui Domingues.

ABS prepara profissionais para certificação internacional

Fundada em 1979, a ABS – Associação Brasileira de Soldagem congrega profissionais para desenvolver tecnologias de soldagem, disseminar conhecimentos por meio de treinamentos, congressos, seminários, participação em feiras e veículos de comunicação especializados. Com foco em qualidade, em 2002, a ABS deu início ao Programa de Certificação de Profissionais de Soldagem, em convênio com a AWS – American Welding Society, formando um primeiro grupo de inspetores de soldagem certificados. O sistema é reconhecido em todo o mundo, o que implica no reconhecimento mútuo dos diplomas atribuídos pelas instituições autorizadas em todos os países, harmonização do sistema de ensino/formação na área da soldagem, desde a classe de engenheiro até a de soldador, o que garante um nível de formação adequado e uniforme em todos os países participantes.

“Estamos carentes de profissionais capacitados em soldagem em todos os níveis” (Américo Scotti – UFU)

Em 2006, a ABS passou a representar o Brasil no IIW (International Institute of Welding), o que culminou na chegada de um curso internacional de engenharia de soldagem, preparatório para a certificação do IIW. Aqui, os cursos (com duração de 460 horas-aula – práticas e teóricas) são ministrados em parceria com diversos centros de treinamento e instituições de ensino em vários estados, como a Escola de Engenharia Mauá, a Universidade de Taubaté (UNITAU), a Unimep (Piracicaba-SP), a UFU, a Universidade Federal do Paraná (UFPR), o SENAI Simatec (Salvador –BA), e a Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG). Atualmente, cerca de 100 alunos de empresas como Confab, Maxel e Dedini estão se aprimorando com vistas a um certificado internacional, após aprovação nos exames do IIW. A novidade prevista ainda para este ano é o início de cursos voltados para técnicos de soldagem, portanto para profissionais de nível médio. Nesse sentido, o SENAI, em diversas regiões do país, é parceiro e exemplo de excelência em aprimoramento em soldagem. “Com a demanda de segmentos, como óleo e gás, precisaremos de mais centros de treinamento em soldagem em território brasileiro”, afirma Daniel Almeida, engenheiro metalurgista e diretor executivo da ABS.


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A solda abrange desde pequenos componentes eletrônicos até grandes estruturas e equipamentos (pontes, navios, vasos de pressão etc.), o que implica em diferentes processos. A maioria deles necessita de altas temperaturas locais que permitam a junção dos metais. O tipo da fonte de calor é usado como descrição básica do processo como, por exemplo, soldagem a gás e a soldagem a arco. O método de proteger o metal quente do ataque da atmosfera é a segunda característica mais importante de distinção entre os processos. As técnicas variam de recobrimento com fluxos, que formam uma escória protetora, até proteção com gases inertes. Em algumas circunstâncias, a atmosfera é removida por meio de vácuo. Alguns processos têm aplicações muito específicas, enquanto outros são flexíveis e podem ser utilizados em várias atividades.

Arco Submerso/SAW – Na soldagem por arco submerso, um arco é formado entre a peça de trabalho e o fim do consumível, no qual ambos estão cobertos por uma camada de fluxo granular.

Corte Plasma – Consiste em um arco elétrico concentrado que derrete o material através de um feixe de plasma de alta temperatura. Todo material condutor pode ser cortado.

Revestimento Duro – O custo de substituição de componentes que se desgastam ou são danificados durante um serviço levou ao desenvolvimento de um vasto leque de técnicas conhecidas como revestimento duro, que pode restaurar as partes dando condições de reutilização.

Soldagem MIG/MAG ou GMAW – Na soldagem MIG (Metal Inert Gas) ou MAG (Metal Active Gas), também chamadas Gas-Shielded Metal Arc Welding (GMAW), um arco é mantido entre o arame sólido e a peça de trabalho.

Soldagem com Arames Tubulares – A soldagem com arame tubular (FCAW) é um processo similar ao MIG/MAG no que diz respeito aos equipamentos utilizados e aos princípios de funcionamento.

Soldagem por Eletrodo Revestido (MMA) – A soldagem com eletrodos revestidos é chamada de MMA (Manual Metal Arc) ou SMAW (Shielded Metal Arc Welding). Esse é o mais antigo e o mais versátil dentre os vários processos de soldagem a arco.

Soldagem TIG ou GTAW – A soldagem TIG produz uma solda limpa e de alta qualidade. Como não é gerada escória, a sua chance de inclusão no metal de solda é eliminada, e a solda não necessita de limpeza no final do processo.



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  1. Alexsandro caio martins

    boa tarde sou formado em mecanico de manutenção(menor aprendiz)com curso basico de solda,sou tecnico em mecanica industrial e formação superior em gestão da produção industrial.gostaria de saber se poso estar relizando o curso de inspetor de solda n1.tenho grande interese no curso desde ja obrigado.

  2. Matheus de 0liveira Araujo

    Bom dia, quero agradecer a todos pela atenção ao meu pedido, gostei da materia, excelente e de alcance direto nos interesses da cadeia produtiva da soldagem. São iniciativas e materias como esta que considero proativa aos interesses da industria brasileira como um todo. Aqui em manaus, temos uma industria naval forte e revestida no interesses de qualificar uma quantidade expresiva de soldadores no mercado naval do Amazonas, Visando a credibilidade e o proficionalismo de ambas instituição, Gostaria de ter na cidade de manaus, um SEMINÁRIO, que tratase, desta questão de qualificação e certificação desta comunidade soldadora existente no mercado do Amazonas. Posso garantir como instituição do qual sou o Presidente, totalo apoio junto a governo do estado,prefeitura,suframa,senai,e federação da industria do estado Amazonas,bem como local para realizar evento. Aqui fico a inteira disposição da ABS, E DA UNIVERDIDADE FEDERAL DE URBELANDIA. para contato e visitas para que possamos mostrar melhor nosso quadro atual de qualificação.
    Meu contato no SINDICATO DA INDUSTRIA DA CONSTRUÇÃO NAVAL NAUTICA, OFSHORE E REPAROS DO ESTADO AMAZOANS-SINDNAVAL. é 92-8833-0639 – 304-8398/8396.

    • manufatura

      Olá.

      as sugestões são sempre importantes. As avaliamos com carinho e na medida do possível há um estudo e posterior publicação.

      Obrigado pela sua!

      Mande mais sugestões quando quiser!!

      Att
      Equipe M. em foco


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