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Seco Tools: uma história que se confunde com o desenvolvimento do setor de ferramentas

Concentração de esforços no desenvolvimento de produtos originais proporcionaram posição de destaque para a empresa no segmento de ferramentas de metal duro para usinagem.

No campo da manufatura, uma das áreas de grande importância é a usinagem. Passando por várias fases distintas, a evolução desse método de manufatura se deu pelo progresso tecnológico de máquinas e equipamentos, assim como pelo desenvolvimento de novas soluções tecnológicas em termos de materiais, geometrias e sistemas de ferramentas.[/dropcap]

Materiais como o aço carbono e o aço rápido (HSS – high speed steel) tiveram sua importância até o início do século passado, contudo, desde a chegada do metal duro ao mercado, eles passaram a ter uma participação marginal no segmento de ferramentas de corte. Combinando tenacidade com alta resistência aos desgastes, o metal duro conquistou amplo espaço, principalmente nas operações de torneamento, fresamento, furação e mandrilamento. Ainda que materiais como as cerâmicas, os cermets (combinação de cerâmica com metal), os PCDs (Polycrystalline Diamond ) e os CBNs (Cubic Boro Nitride) possam ser imbatíveis em algumas aplicações específicas, a cobertura que o metal duro proporciona é bastante ampla, principalmente se considerarmos, nesse grupo de materiais para ferramentas de corte, os metais duros revestidos com camadas ultrafinas de carbeto, nitretos, carbonitretos, alumina, entre outras.

Nascido em um instituto de pesquisa mantido com recursos de um fabricante de lâmpadas, o grande avanço tecnológico no desenvolvimento desse tipo de material ocorreu quando se tornou um negócio rentável para algumas companhias industriais, que compraram a patente ou o direito de utilizá-lo em escala industrial na fabricação de ferramentas de corte, a começar pela pioneira Krupp Widia.

Desde a descoberta do metal duro, algumas empresas se destacaram e deram grandes contribuições para o seu desenvolvimento e aplicação no campo das ferramentas de corte. Uma delas é a Seco Tools. Empresa de origem escandinava, chegou ao Brasil em julho de 1961 – ainda sob o nome Stora Koppaberg – incentivada pelo governo de Juscelino Kubitschek e seu plano de metas para fazer com que o País evoluísse 50 anos em apenas 5. À época, instalou-se em São Bernardo do Campo (o “B” da região conhecida como ABC Paulista), onde se formara um cluster (aglomerado de empresas afins) de indústrias montadoras de veículos e autopeças, que tinham necessidade de bens e insumos que ela poderia atender.

Na ocasião, havia apenas três ou quatro empresas que fabricavam ferramentas para usinagem e a maioria produzia pastilhas de metal duro para serem soldadas nos porta-ferramentas de aço. A Stora Koppaberg foi uma das pioneiras a produzir e lançar, no Brasil, as pastilhas na versão intercambiável. Essa inovação promovia um ganho significativo na redução de tempos improdutivos, como aqueles referentes à preparação das máquinas, além da eliminação dos custos com reafiação. Contudo, no início, a novidade sofria grande rejeição, pois a maioria dos responsáveis pela usinagem nas fábricas considerava a impossibilidade de reafiação das pastilhas descartáveis uma desvantagem. Nem todos tinham facilidade para colocar os custos finais na “ponta do lápis” para verificarem o quanto perdiam, mesmo que se pudesse reafiar uma aresta de corte soldada de 10 a 20 vezes.

Talvez isso ocorresse, porque o Brasil era um mercado fechado e todos os custos de fabricação podiam ser repassados aos preços dos produtos finais – fato que hoje é praticamente impossível, pois cada segundo ganho na execução de uma peça, principalmente em produções em massa, pode gerar vantagens significativas em custos de produção, tonando viável a participação (ou não) de uma empresa em um determinado segmento, já que a lucratividade é cada vez mais diminuta, em tempos de mercados muito concorridos.

Em 1968, a Stora Koppaberg tornou- -se Fagersta do Brasil S/A, nome dado em homenagem à cidade na qual a nova área fabril da matriz foi instalada: Fagersta – Suécia. Posteriormente, em 1971, a Fagersta do Brasil adquiriu a fábrica Vulcanus, fabricante de brocas e coroas para perfuração de rochas, atividade muito comum em campos de mineração, assim a empresa passou a ser chamada de Fagersta–Vulcanus S/A. Cabe lembrar que, durante muitos anos, o Brasil foi um mercado fechado e as importações eram muito restritas, principalmente nos casos em que alguma empresa local alegasse possuir produtos similares ao que se desejava importar, mesmo quando essa alegação não correspondesse 100% à realidade. Esse fato levava muitas empresas estrangeiras a investir na instalação de plantas locais ou no estabelecimento de joint-ventures com empresas genuinamente brasileiras.

Mais do que vender ferramentas, é preciso vender confiança.

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Esse foi um dos fatos que levou a empresa, em 1971, a produzir a matéria- -prima do metal duro em sua planta em São Bernardo, o que era feito partindo da scheelita brasileira, que era transformada em óxido de tungstênio e, posteriormente, em pó de carbeto de tungstênio, que é o metal base na produção do metal duro. Na sequência, por meio de prensagem desse pó, proveniente da scheelita, ligado a uma mistura de outros pós metálicos, obtinham-se os briquetes, que posteriormente eram sinterizados para formar a pastilha de altíssima qualidade mecânica, assim como a conhecemos hoje.

Os serviços de assistência técnica e treinamento, aumentam a satisfação do cliente e quando a experiência é boa, o cliente volta a comprar.

Em 1978, mais uma vez a empresa muda de nome, agora seguindo determinação da matriz Sueca, passando a se chamar Seco Tools do Brasil, para a produção de ferramentas para usinagem e ser chamada de Secoroc a divisão Vulcanus, para a fabricação de brocas para mineração.

A Seco Tools hoje é, sem dúvida, um dos grandes players (empresa participante do mercado) no campo das ferramentas de metal duro para o corte de metais A empresa prestou um serviço inestimável ao aperfeiçoamento técnico da mão de obra da indústria metalmecânica. Como o ensino de usinagem nos cursos técnicos e de nível superior não tinha muito acesso à literatura e nem recursos didáticos para a instrução de técnicas na aplicação de ferramentas de corte com pastilhas intercambiáveis, a empresa desenvolveu um trabalho missionário quanto ao treinamento e capacitação dos usuários desse tipo de ferramenta. A Seco Tools estava convicta de que se os clientes não se sentissem seguros no uso do metal duro e se não tivessem uma capacitação adequada não conseguiriam obter os melhores resultados com os produtos Seco e se as primeiras experiências não fossem bem-sucedidas, ou seja, se não obtivessem bons resultados, eles parariam de consumir.

Para exemplo, em 1973, a empresa institucionalizou o uso de uma perua Kombi na cor laranja, carinhosamente chamada de Genoveva, que era equipada como uma oficina ambulante e servia de centro de treinamento móvel para levar conhecimento aos clientes carentes de informação adequada ao uso de ferramentas intercambiáveis de metal duro, por vezes, em regiões distantes dos centros mais industrializados.

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Esta visão é mantida até hoje, relata Cristiano Jorge, gerente de marketing e produtos da companhia, enfatizando que os cursos que a empresa oferece são muito mais voltados à transferência de conhecimento técnico do que uma ação de promoção e propaganda de produtos.

Atualmente, a empresa desenvolveu um programa de treinamento chamado step training, com o objetivo de formar técnicos e engenheiros especializados em usinagem e também elaborou um livro técnico de aproximadamente 1,5 kg de páginas, que disponibiliza ao seu corpo técnico para que tenham literatura de qualidade para consultas e, eventualmente, disponibiliza para entidades de ensino com o propósito de contribuir com o país na formação de mão de obra de qualidade.

Fabio Ricardo, gerente de treinamento, que é mestre em engenharia mecânica pela Unicamp, lembra-se da maior dificuldade que os usuários enfrentavam no passado para fazer uma escolha adequada de ferramentas com pastilhas intercambiáveis e quanto isso se tornou mais fácil após a campanha de lançamento do sistema Secolor, implementado em 1990. O sistema alcançou grande êxito por aliar a escolha e a aplicação das ferramentas a um esquema de cores, de forte apelo didático. A iniciativa caiu muito bem no mercado, porque permitia a qualquer usuário fazer uma escolha adequada de ferramentas, combinando classes e geometrias de quebra-cavacos para cada família de material a ser usinado (aço, ferro fundido ou metais ligados) e contribuía para a obtenção de uma usinagem eficiente e produtiva.

O sistema de seleção de pastilhas Secolor arregimentou, desde então, muitos seguidores e ainda continua sendo um modelo para seleção e otimização das operações de usinagem. Ele permite a escolha e otimização de combinações de classes de metal duro e quebra-cavacos para sua aplicação específica. Com a introdução de três novas classes de aplicação mais universal e três versáteis geometrias de quebra- -cavacos, o método facilitou ainda mais a escolha de ferramentas, tanto quanto a probabilidade de êxito. Cristiano relata que, desde 2000, quando foi lançado o machine navigator (catálogo eletrônico), este continua sendo um diferencial de mercado na questão informação, pois é um dos únicos catálogos que tem separado toda a linha de produtos por área de aplicação e fornece todo o suporte para que o usuário possa, facilmente, encontrar a melhor solução para o desafio de usinagem que necessite enfrentar.

É preciso ser o melhor nas linhas de ferramentas que possam gerar rentabilidade tanto para quem compra, como para quem vende.

Fabio enfatiza que todas essas inciativas apenas serviram para reforçar o trabalho do pessoal técnico. O êxito, nesse mercado, depende não só de uma visita comercial bem feita, mas também de um bom acompanhamento técnico ao longo de todo o processo da venda, antes, durante e depois. O bom trabalho de pós-venda aumenta a segurança do cliente em fazer novos investimentos. É óbvio que o êxito de uma empresa no mercado não depende apenas de sua linha de produtos e suas habilidades técnicas ou de vendas. Por trás de tudo isso, há sempre um bom pensamento estratégico, que define como, quando, onde e para quem vender. Ao que parece, a Seco tem conseguido equilibrar bem todas essas variáveis ao longo do tempo, dada a posição de destaque que ostenta no mercado.

A história da empresa é muito rica também quanto à inovação, e não só quanto às classes de metal duro com revestimentos, mas também quanto aos conceitos de geometrias de corte, tendo sido pioneira, por exemplo, no lançamento de fresas de facear com pastilhas de oito arestas de corte com formadores de cavaco sinterizados, a Octomill, e posteriormente as Double Octomill, com 16 arestas por pastilha. Com um leque de produtos bastante amplo, que cobre bem as principais aplicações da usinagem de metais, tais como torneamento, fresamento e furação, a companhia oferece soluções competitivas em ferramentas de metal duro para usinagem, desde operações de desbaste até o acabamento fino. Sua reputação, principalmente nas linhas de ferramentas para fresamento, foi conquistada com uma série de lançamentos bem-sucedidos tanto no que se refira a classes de metal duro, como a S25M, quanto na ferramenta conceito como as fresas Minimaster.

Cristiano salienta que o mercado ainda é muito instável para se fazer qualquer previsão para 2013, contudo as expectativas apontam para algum crescimento. Ele também acredita que as estratégias e iniciativas particulares de cada empresa fará a diferença diante do atual panorama econômico, tanto no âmbito interno, quanto no externo.

Assim, uma questão que nunca se pode perder de vista é a capacidade de inovação tanto das linhas de produtos, quanto dos métodos de trabalho que possam estreitar ainda mais os relacionamentos entre a empresa e seus clientes estratégicos de segmentos industriais que estejam mais aquecidos – com o cuidado de perceber que há segmentos que estão em alta na mídia, porém pouco se vê em termos de movimentos reais quanto a produção e investimentos que possam ajudar o desempenho do setor de ferramentas para usinagem.

Em 2001, em busca de uma melhor solução tanto em logística, quanto em custos, a empresa mudou a sua sede para a cidade de Sorocaba (município localizado na região sudeste do estado de São Paulo, a 92 km da capital), onde mantém a sua fábrica de ferramentas especiais e seu centro de operações no país. Para Fabio, a velocidade das mudanças é elevada, o mercado e as tecnologias se renovam muito rapidamente e adaptar-se às novas demandas e exigências do mercado passa a ser uma necessidade constante. “O bom de hoje já não serve no amanhã”, diz. “Deste modo, manter-se competitivo exige um esforço contínuo no aprimoramento técnico e no modo de gerir uma empresa”, complementa.

Cristiano e Fabio concordam que todos os investimentos devem contribuir para a conquista da confiança do cliente. Todo cliente bem atendido, satisfeito, lucrativo e que trabalha com um fornecedor em quem possa confiar e que lhe dê o devido suporte para que tudo isso ocorra acaba conferindo a este fornecedor o status de preferencial. Contudo, para se chegar a esse ponto, é preciso ter uma equipe competente e bem entrosada e isso tem sido um dos fatores críticos de sucesso para que a Seco Tools esteja entre as empresas de maior destaque no mercado de ferramentas.


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