Onde estão os profissionais do chão de fábrica?
Carreira para aqueles que desejam trabalhar nessa área pode ser promissora e permite o conhecimento técnico profundo dos produtos e processos da empresa.
Há cinco anos, Samanta Luchini, consultora especializada em desenvolvimento humano, foi procurada por um cliente para encontrar a mão de obra para o chão de fábrica de sua empresa. As vagas eram destinadas a fresadores, ferramenteiros, soldadores e, principalmente, operadores e programadores de máquinas CNC. Mas Samanta não conseguiu encontrar profissionais qualificados para ocupar esses cargos.
O número de profissionais que procuram atuar no chão de fábrica tem decrescido nos últimos anos.
Rogério Borges – Supervisor de avaliação educacional do SENAI-SP
“A solução foi que nós mesmos formássemos o contingente que a empresa procurava, para que essa dificuldade fosse amenizada a médio e longo prazo”, conta a consultora. “Para isso, entramos em contato com o SENAI da cidade de Santo André (SP) para estabelecer uma parceria e, para a nossa surpresa, descobrimos que naquele ano não havia se formado nenhuma turma de operadores CNC”, lembra.
A constatação de Samanta é bastante real, ainda hoje, em muitas indústrias. Encontrar profissionais qualificados para trabalhar na área parece ser uma tarefa difícil. Segundo Paulo Rogério Borges, supervisor de avaliação educacional do SENAI São Paulo, o número de profissionais que procuram atuar no chão de fábrica tem decrescido nos últimos anos.
“Pelos depoimentos das empresas que visitamos, pudemos perceber que os profissionais recém-contratados, formados em cursos profissionalizantes e técnicos, relutam em atuar diretamente no chão de fábrica e optam, principalmente, pelas áreas informatizadas”, relata Borges. “Em parte, acredito que esse interesse tenha crescido pelo grande avanço da área de informática nos últimos anos”, opina.
Um desafio para as lideranças desse segmento é transmitir a relevância desse tipo de trabalho
Samanta Luchini – Consultora especializada em desenvolvimento humano
Samanta enfatiza que muitos jovens podem ter uma percepção de que o trabalho operacional possa ter menos prestígio que outras áreas. “Muitos não percebem que essa ideia está completamente equivocada, já que muitas atividades dependem desse tipo de mão de obra”, ressalta. “Acredito que um desafio para as lideranças desse segmento, hoje, seja transmitir para seus colaboradores o significado desse tipo de trabalho e sua relevância”, completa.
Em empresas que se preocupam com a valorização de seus funcionários, profissionais como operadores de máquina CNC e líderes de produção podem chegar a receber salários até mais elevados que muitos cargos administrativos.
Uma carreira de desenvolvimento Elson Dias de Oliveira é líder de produção da Cummins Power Generation empresa que desenvolve soluções para a geração de energia – e trabalha há seis anos no chão de fábrica. Oliveira passou por todos os estágios de montagem dos produtos e teve a possibilidade de adquirir um conhecimento amplo do processo de produção.
Em 2010, participou da seleção para o cargo de líder de produção e foi promovido. Oliveira faz o curso de tecnólogo em Logística, que deverá concluir em junho de 2013. Seu currículo conta com cursos de conceitos básicos de elétrica industrial, motor diesel e informática básica e de desenvolvimento Kaizen, oferecidos pela própria empresa com o objetivo de desenvolver a liderança de seus colaboradores. “Acredito que trabalhar no chão de fábrica nos oferece a oportunidade de agregar conhecimento amplo, pois temos contato com várias áreas e o processo completo de produção”, afirma.
Samanta explica que profissionais que atuam nessas funções têm a chance de adquirir uma noção bastante refinada dos processos e dos produtos fabricados e comercializados pela empresa. Esse tipo de conhecimento é essencial para atividades relacionadas a áreas como marketing, vendas, consultoria técnica, atendimento ao cliente, compras e projetos, por exemplo.
Onde Oliveira trabalha hoje, no setor de manufatura, algumas de suas funções são: manter o foco em melhorias contínuas para a produção; manter o controle de todas as ferramentas utilizadas na linha de montagem, assim como decidir sobre compra de novas ferramentas e manutenção destes materiais; produzir e revisar o plano de processo – documento utilizado na produção para padronizar e orientar a montagem dos geradores; entre outras atividades.
“Trabalhar no setor de manufatura me ofereceu uma nova oportunidade de aprendizagem, pois consigo aplicar os conhecimentos que adquiro na faculdade de Engenharia de Produção, em que curso o 4º semestre, em meu trabalho diário”, conta o líder de produção.
Mas em sua experiência no mercado, Oliveira percebe que muitos dos profissionais que se preparam para trabalhar no chão de fábrica não chegam à vaga com as qualificações necessárias. “Muitos têm conhecimento apenas teórico – em alguns casos, não completo – e normalmente não têm experiência profissional”, comenta.
Profissionais focados
Na Cummins desde 2001, Almeida começou como montador de grupos geradores e também já passou por várias etapas do processo produtivo. O conhecimento adquirido com essa experiência permite que ele faça uma avaliação mais apurada sobre quais os pontos que podem ser aprimorados quando se trata de segurança, qualidade e produtividade de sua equipe. “Acredito que alguns dos atributos necessários para se trabalhar nessa área é ser dinâmico e ter conhecimento aprofundado no segmento”, aponta Almeida.
Segundo o supervisor do SENAI, cada carreira no chão de fábrica exige qualidades bastante específicas. Para um operador de máquinas CNC, é importante ter familiaridade com equipamentos computadorizados; com termos técnicos, muitas vezes no idioma inglês; e, principalmente, ter capacidade e facilidade de memorização dos vários acionamentos existentes nos equipamentos CNC.
Já para aqueles que querem trabalhar como preparadores, os requisitos necessários são noções na área de mecânica, como leitura e interpretação de desenho técnico; utilização e manuseio de instrumentos de metrologia dimensional; além de todo o conhecimento necessário a um operador de máquina CNC.
Para aqueles que querem se tornar programadores, entre os pré-requisitos estão noções aprofundadas em processos de fabricação mecânica; linguagem de programação CNC; característica e parâmetros de usinagem dos materiais envolvidos; além de todo o conhecimento de um operador.
Samanta Luchini indica outros aspectos fundamentais para profissionais do chão de fábrica: trabalhar bem em equipe, ter uma visão sistêmica do processo, foco em resultados, proatividade e disciplina.
Vantagens e Desvantagens
Com a formação adequada e os requisitos necessários, é possível construir uma carreira de sucesso no chão de fábrica. Esse caminho profissional permite alcançar um alto nível de aprofundamento técnico, que pode permitir destaque do profissional em outras áreas da empresa no futuro.
Apesar disso, é importante também lembrar que este tipo de trabalho exige algumas condições específicas, como a jornada em turnos. Também por ser uma área ligada diretamente à produção, os profissionais do chão de fábrica podem ficar expostos a oscilações da demanda do mercado e possíveis reduções de vagas.
Mas de acordo com Paulo Rogério Borges, do SENAI-SP, o futuro é promissor para esse mercado. “Hoje já percebemos a carência de mão de obra especializada em produção e acredito que com o desenvolvimento que estamos vivendo, teremos um aumento da demanda por esse tipo de profissionais”, prevê o supervisor.
There are 6 comments
Add yoursPost a new comment
Você precisa fazer o login para publicar um comentário.
Tenho 40 anos, sou Coordenador da área de Engenharia de Processos e trabalho na área ha +- 20 anos.
Tenho observado o grande desinteresse dos jovens pelo chão de fábrica e acredito que deve ao fato de muitos não terem um pingo de vocação para a área.
Tive muitos estagiários que simplesmente indagavam que não estão cursando Engenharia para isso ou aquilo, estudam para Gerenciar.
Deve ser por isso que recebo constantemente propostas e propostas de emprego, pois o mercado está faltando mão de obra qualificada e que não tenha medo de “sujar as mãos”
Aos jovens desinteressados, só tenho a agradecer pois a cada proposta, meu salário aumenta mais!
Olá Carlos
obrigado pela participação!
repassei-o à autora para que responda adequadamente
att
André Berté
M. em Foco
Concordo com ambos os comentários, mas reforço e acrescento mais ao comentário do Acrísio, pois ele está coberto de razão, pois estou neste mesmo barco, ou seja, sou analista de processos Senior desde 1997 e estou desempregado ao um ano buscando oportunidades. Conversando com uma entrevistadora de um RH, a mesma me ajudou a entender o que se passa, pois a resposta é simples: estou com 44 anos, sou técnico formado desde 1988 e não tive oportunidade de fazer a faculdade ainda por vários motivos.
Estudo e muito a área de mecânica, participo de todos os eventos na área que posso ter acesso, faço cursos sempre que posso, e garanto que estou muito mais atualizado que um recém formado. Só não tenho o famoso canudo.
Em resumo: Estou velho para este mercado e também estou fora dos parâmetros que o mercado está exigindo, pois o Brasil está com uma doença crônica chamada “Diplomisse Aguda”, é isso mesmo.
Então deixo uma pergunta: Não seria a hora de rever os conceitos de seleção pelos RHs, pois se me fosse feito a proposta de me admitir, e a empresa utilizaria todo o meu conhecimento adquiridos durante minha carreira a seu favor e em troca fariamos um acordo onde eu comessaria imediatamente uma faculdade direcionada ao segmento da empresa não seria um investimento bem menor do que pegar um recém formado e começar do zero?????
Não estou dizendo em momento algum que os recêm formados não teriam esta capacidade, mas o resultado seria bem mais rápido e ainda os mesmos poderiam captar muita coisa prática e agregar a sua carreira, pois é bem mais fácil pegar uma idéia e amadurece-la agregadas as aulas teóricas da faculdade, do que deixá-los descobrindo tudo novamente o que já se sabe. Em resumo seria pegar o que já se sabe e já foi desenvolvido pelos mais velhos e aprimorar ainda mais transformando em tecnologia de ponta.
Trabalho há mais de 10 anos desenvolvendo aplicativos para auxílio e automação para “chão de fábrica”. Com o passar dos anos eu vi que a grande maioria dos profissionais desta área foram formados dentro da empresa, iniciando em cargos mais baixos, que não exige um nível de conhecimento tão apurado e, com o passar do tempo e conhecimento adiquirido, alguns foram promovidos, ocupando cargos mais técnicos. Hoje, que faz um curso técnico específico, dificilmente continuará no chão de fábrica caso tenha a oportunidade de ampliar seus estudos, buscando algo melhor. Isso torna o setor realmente carente de mão-de-obra qualificada.
Discordo do comentário do colega Dino, sobre o fato das empresas exigirem um diploma de nível superior. Caro colega, não trate a vivência de uma instituição de ensino como algo simplesmente teórico, que simplesmente irá te fornecer um canudo. Este seu comentário depõe contra você e mostra o quanto você precisa desta vivência para conseguir sua vaga no mercado. Não estou desmerecendo o seu conhecimento, tão pouco o seu valor como analista de processos, mas certamente dizer que só te falta um canudo o torna no mínimo equivocado quanto a isso. Não sei os motivos pelos quais você não cursou uma faculdade mas, queira você ou não, é de extrema importância que você o faça o quanto antes. Só passando por este processo é que você entenderá o quão valioso este é para sua carreira e poderá avaliar suas capacidades antes e após este processo. Só não se engane imaginando que você precisa apenas do papel que você chama de canudo…. uma faculdade poderá fornecer conhecimento e amadurecimento profissional, além de ampliar sua visão sobre o mercado de trabalho e suas possibilidades.
Este é o meu ponto de vista em relação a realidade do nosso Brasil Apenas gostaria de evidenciar o seguinte, acho que á um pouco de demagogia em falar, falta de mão de obra qualificada em especial neste segmento, por que,30 anos atrás existia em especial programadores de CNC o suficiente para atender o mercado, agora fresador e ferramenteiro sempre existiu. Alguns anos, não muito distante existia muitos profissionais deste seguimento desempregados querendo trabalhar mais não havia vaga. Acho que continuamos errando e muito em dispensar o profissional antigo e depois buscar o funcionário qualificado. Tem muita gente boa querendo trabalhar mais a idade de 38 anos já não serve mais para produzir neste pais em que, acaba de ser divulgado a expectativa de vida de 73 anos.
Caros amigos,antes deste comentario gostaria de agradecer um amigo, da faculdade por ter cadastrado, Boletim Cimm no meu e-mail,o qual tenho o maior respeito, pelas suas informações,inovadoras e de grande empacto.Bom o termo abordado segundo aminha opinião,são: de vidos,a qualidade dos cursos técnico,em questão da escolha errada da profissão,e do profissional escolhido,pela empresa,pela simpatia.Aproveitando o gancho,o profissional do chão de fabrica eles estão dentro da empresa a qual ele trabalha ou já estão fazendo,dinamica de grupo, em outra empresa.Pois a mesma não percebeu a oportunidade de produzir com qualidade.O profissional na propria empresa ele na sua amplitude de cincos anos trabalhados ja tem o seu start -up pronto para entrar em ação,isto é produzir com exelência.O rh tem afinalidade,de mostrar o profissional em alerta,isto é:entrega de certificados de palestas,diplomas, esta sempre pronto e disposto a colabora com e empresa,opina,e bom profissilnal,esta sempre atualisado.Isto é fala por si só,estou aqui o de estão vocês?Os bons profissionais estão dentro de uma empresa com uma boa remuneração,a qual trabalha a anos ou eles vem de fora a qual empresa escolheu o seu chão de fabrica o miss simpatia.