Negociações sob a égide dos princípios éticos
Mercado escasso, grande número de concorrentes e empresas sem diferencial de competitividade geram um cenário propício para o surgimento de práticas ilícitas de negociação.
A definição acadêmica de ética: é a ciência dos costumes ou dos atos humanos; e seu objeto é a moralidade. Entende- -se por moralidade a caracterização desses mesmos atos como bem ou mal. O dever, em geral, é objeto de ética.
Quando se fala de ética, às vezes ainda paira uma dúvida sobre o que seria. De uma forma bem simplista, trata-se da prática de se agir ou adotar posicionamentos que não venham a ferir um conjunto de princípios adotados pela coletividade e considerados adequados ao bem comum, sem privilegiar este ou aquele grupo particular, ou seja, agindo com ética, ao chegar a hora de se deitar, poderemos pôr a cabeça no travesseiro e dormir o sono dos justos.
Ética pode ser entendida como “a disciplina ou campo do conhecimento que trata da definição e avaliação do comportamento de pessoas e organizações”.
Ela lida com as divergências daquilo que tenha sido estabelecido como algo digno de aprovação, em relação ao comportamento observado, versus o comportamento que se tenha consolidado como ideal. O comportamento ideal é explicitado por meio de um Código de Conduta, ou Código de Ética, que poderá ser implícito em meio à cultura estabelecida em uma determinada organização ou comunidade, ou explícito por meio de leis e normas publicadas e levadas ao conhecimento de todos aqueles que a tal código devam se submeter.
A ética é uma questão importante nas tomadas de decisões e negociações, principalmente quando envolvem altos valores monetários. Como a tomada de decisão em tais casos, geralmente, é parte de um processo disputado, no qual as partes estão competindo por recursos escassos ou, quem sabe, pelo fechamento de uma meta (seja ela de vendas ou de redução de custos em suprimentos), não raramente tais partes poderão se sentir tentadas a se desviarem do caminho ético. Ou seja, fugindo do comportamento honesto, partindo para alguma prática que se poderia considerar desonesta, dependendo, evidentemente, do ponto de vista de quem o avalia.
Não se pode, por exemplo, perder o foco do cumprimento das obrigações legais que possam afetar o desenvolvimento dos negócios. É imprescindível preservar a confidencialidade de todas as informações que garantam a idoneidade tanto da empresa, quanto dos profissionais envolvidos nas negociações. Além disso, mais recentemente, tem surgido também a perspectiva da “ecoeficiência” dentro do escopo das negociações, dada a progressiva necessidade de se garantir a sustentabilidade do planeta. Deste modo, no momento de se optar por uma ou outra fonte de suprimentos é importante considerar aquela que esteja mais alinhada com práticas não agressivas ao nosso ecossistema. Tanto vender, quanto comprar de alguém que esteja contribuindo para a extinção da fauna ou da flora, empregando recursos danosos ao meio ambiente, pode repercutir negativamente sobre o desempenho dos negócios de tais incautos – pelo menos assim tem sido, principalmente nos mercados mais ricos e desenvolvidos.
Há muita discussão sobre até que ponto está se agindo de maneira ética ou não. Boa parte das organizações já possuem seus códigos de conduta ou ética com definições claras dos limites que devem reger as atitudes e o comportamento dos respectivos colaboradores. Contudo, não basta apenas publicá-los, as organizações precisam de estrutura e meios que garantam a efetiva aplicação desses códigos, seja por meio de monitoramento sigiloso dos processos administrativos ou ainda por intermédio de algum tipo de auditoria. Afinal, as organizações são compostas por pessoas, que trazem em si toda complexidade que é peculiar aos seres humanos, com seus valores, suas crenças e também suas fraquezas. Existem empresas que apresentam seus códigos de conduta aos funcionários já na integração (ou seja, no primeiro dia de trabalho) e neste momento cada um dos profissionais contratados assina um termo de conhecimento e compromisso.
Uma ocasião bastante comum na qual se aplica o código de conduta é quanto ao recebimento de brindes frequentemente oferecidos pelos fornecedores aos seus contatos do departamento de compras, principalmente na época das festas de fim de ano. Esta é uma questão sempre polêmica. Algumas empresas adotaram a política de limitar o valor do brinde a um valor máximo de R$ 200,00, por exemplo, outras já recepcionam os brindes nas portarias e depois encaminham a alguma instituição beneficente. Essas políticas costumam ser bem ressaltadas com a proximidade do Natal, todavia, na maioria das empresas, são extensivas também ao longo do ano, sendo que uma das mais utilizadas é limitar valor do brinde.
Um código de ética bem consolidado inibe o surgimento de práticas comerciais não recomendáveis à idoneidade das empresas
Um ponto importante que vale a pena ressaltar é que, embora este artigo tenha sido escrito com ênfase à área de compras, o tema abrange também as demais áreas das organizações, em especial aquelas que mantenham algum tipo de relacionamento com fornecedores como, por exemplo, os departamentos encarregados da aprovação técnica e liberação de materiais e insumos de utilização nas linhas de manufatura.
Como reflexão, cabe lembrar dois pensamentos, um filosófico e outro bíblico, para enriquecer a argumentação sobre ética.
Filosófico:
Ética = Quero, Devo, Posso;
1) Quero, mas não devo.
2) Devo, mas não posso.
3) Posso, mas não quero.
Bíblico:
De nada adianta ao homem ganhar o mundo, se para isso ele perder a própria alma (integridade, hombridade, capacidade de ser honesto, ser digno), segundo Jesus Cristo no livro de Marcos.
Quanto maior o tamanho da empresa, mais frequentemente se encontra uma política consolidada sobre os aspectos éticos a serem considerados no desenvolvimento das atividades administrativas a ela inerentes. Empresas de menor porte que disputam o fornecimento de commodities, ou seja, empresas que concorrem com uma infinidade de outros fornecedores e não possuem qualquer diferencial para obterem a preferência de fornecimento, não raramente se enveredam pelos caminhos da corrupção e, se não houver algum sistema de auditoria sistemática, muitos são as que acabam sucumbindo a esse tipo de prática degradante, que pode abalar tanto a imagem da empresa, quanto dos profissionais que nela trabalham.
Diante disso, cabe aos administradores encontrarem procedimentos que inibam esse tipo de desvio moral, tanto quanto buscarem alternativas que os ajudem a desenvolver um diferencial de competitividade, oferecendo ao cliente algo que ele dê valor e nenhum concorrente possa oferecer, ou entregando algo que todos os demais concorrentes também entregam, porém fazendo-o sob um atendimento tão bem feito que leve seus clientes a lhes darem preferência. Pelo lado de suprimentos, é necessário que se invista em rotinas e processos que privilegiem, em todas as instâncias, os valores éticos, pois todos que os praticam, até aqui, nunca se arrependeram, pois dormem melhor, costumam viver mais tempo e felizes.
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