Mega Sistemas: da ambição de dois jovens à maturidade consolidada em 30 anos
Um matemático e um engenheiro recém-formados e a visão de facilitar a vida de profissionais do setor contábil e trabalhista. A ambição dos jovens empresários que viram ali a oportunidade de atender a região de Itu cresceu e amadureceu ao longo dos últimos 30 anos, consolidando a empresa dentro do mercado de sistemas de gestão, hoje, em todo o País. A Mega Sistemas Corporativos foi além do plano inicial, se adaptou a mudança do mercado e focou softwares de gestão empresarial e soluções tecnológicas especialmente nos setores de Construção, Manufatura e Serviços.
“Não tínhamos, na época, a menor noção que a empresa pudesse chegar ao patamar que chegou”.
Seus possíveis clientes não tinham computador. Somente grandes empresas, na época, começavam a adquirir computadores como já acontecia em países mais desenvolvidos. Muito diferente da realidade atual, que cada mesa de escritório possui um laptop à disposição do funcionário, na década de 1980 a proposta dos jovens recém- -formados Paulo Bittencourt e Walmir Scaravelli poderia ser considerada um tanto quanto ambiciosa. Não bastava convencer uma empresa a aderir à tecnologia, ainda havia que mostrar que essa tecnologia, atrelada ao sistema que desenvolveram poderia mudar toda a concepção de gestão conhecida até então por aqueles empresários.
A Mega Sistemas foi fundada no dia 20 de julho de 1985, exatamente quatro meses antes da Microsoft começar a vender o Windows 1.0. “Era um mercado praticamente inexistente, então nós começamos a criar essa demanda, mostrar a essas empresas o quanto iria agilizar o processo deles se adquirissem um computador, adquirissem um sistema. Mas eu posso dizer que era um mercado bastante incipiente”, recorda o sócio fundador da empresa, Walmir Scaravelli. Os empresários percebiam a dificuldade das empresas se adaptarem, com gestão manual, a todas as mudanças impostas pelo governo na época. A oportunidade partiu dessa necessidade. “Nosso objetivo era atender empresas de menor porte, porque a gente percebeu – e isso não mudou desde então – como as leis mudavam toda hora, principalmente na área trabalhista. As regras de sindicatos, a parte tributária, em 1985, era um momento de muita inflação, todo mês os salários se reajustavam, a inflação era de 10%, 20% ou 30% ao mês”, recorda.
Embora enxergassem uma grande oportunidade, os jovens empresários, com 22 anos na época, não tinham planos muito ousados para a empresa. “Nós percebemos uma oportunidade de criar uma empresa para desenvolver sistemas na área contábil e trabalhista – mais comum na época – e que ainda não conhecia muito esse conceito de gestão integrado”, conta Scaravelli. Nesse momento, a única pretensão da dupla era atender ao mercado local de Itu, no interior de São Paulo. Scaravelli e Bittencourt não esperavam, 30 anos depois, atender cerca de 2.000 clientes nas principais regiões de todo o País.
A década de 1990 e as mudanças tecnológicas
Foi na década de 1990 que a empresa começou a tomar um corpo maior. Nessa época, aproximadamente 50 colaboradores já os ajudavam. Foi também neste período que a participação em uma importante feira do setor tecnológico abriu as portas para o mercado nacional. Mas esse também foi um período de saltos tecnológicos, em que a empresa precisou se adaptar rapidamente.
A primeira mudança significativa que a Mega Sistemas precisou enfrentar foi a adoção das redes de computadores, no início da década. “Quando iniciamos nossa empresa, não havia rede para microcomputadores, então todos os computadores trabalhavam de forma isolada. O primeiro salto que demos foi transformar um produto que era isolado – [o setor de] folha trabalhava isolado da contabilidade, que trabalhava isolado do financeiro. Nós fizemos um produto na década de 90 que fosse integrado e em rede”, explica Scaravelli.
No início dessa década, uma nova onda de computadores chega ao mercado e a Microsoft ganha popularidade, tornando o Windows o sistema operacional mais usado até então. A migração dos sistemas para o ambiente Windows trouxe a segunda grande transformação da empresa, que precisou adaptar seus sistemas a um ambiente mais gráfico.
Mas, para Scaravelli, a “grande virada” aconteceu entre a década de 1990 e 2000, quando os sócios perceberam uma nova tendência. “A maioria dos nossos concorrentes tinha um produto único de gestão que atendia qualquer empresa, fosse ela uma indústria, uma empresa de serviços ou qualquer empresa. E nós percebemos que seria interessante ter um produto, embora na sua base o sistema fosse praticamente único, que tivesse especializações para cada segmento”, conta.
Os empresários perceberam que a segmentação e especialização forneceria um atendimento diferenciado a seus clientes. Eles buscavam inovar para se destacar entre tantos concorrentes que surgiam no mercado, muito diferente da época em que fundaram a empresa. “Todos os profissionais que trabalhavam com esse segmento tinham grande experiência em fábricas, grande experiência no setor de manufatura. A gente percebeu que esse seria um diferencial e que deveríamos ter sempre um profissional especializado em cada segmento”, explica.
“[…] quando começamos a ter esse produto mais focado em segmentos, nós adquirimos um grande diferencial [em relação aos concorrentes] e hoje somos reconhecidos por isso”.
“Nós vemos que os produtos que estão disponíveis no mercado são muito parecidos. No benchmarking com nossos concorrentes, a gente percebe que esses produtos possuem funcionalidades ligeiramente diferentes, porém muito semelhantes. Acabou virando um commodity. Então, o grande diferencial é você realmente ter uma equipe de profissionais especializados”.
Dessa forma, passaram a desenvolver produtos desenhados especificamente para determinados segmentos. Atrelado a isso, todos os profissionais envolvidos no atendimento, desde a venda do produto até a implementação do sistema, tinham experiência também no setor da indústria que prestariam o atendimento. “Isso faz com que os nossos profissionais falem a mesma língua que nossos clientes”, afirma.
Scaravelli conta que seus clientes relatavam que ao comprar um produto da concorrência até dispunham de um bom produto, entretanto a equipe que prestava atendimento não tinha a capacitação necessária. “Isso acabou se tornando um diferencial muito forte nosso”, diz. Nesse período, entre 2002 e 2003, a empresa passou a focar esforços em produtos voltados para a manufatura, “que era o segmento mais forte nessa época”.
Manufatura
Desde então, o segmento de manufatura tem sido o carro-chefe da empresa ao lado dos setores da construção civil e de serviços, que juntos representam 90% da carta de clientes da empresa. Dentro do setor manufatureiro há, ainda, os subsegmentos de maior representatividade: químico, alimentos e metalmecânico. Todos que a empresa se mantém focada para atender suas necessidades específicas. “Esses outros segmentos [logística, combustíveis e agronegócios] são produtos que nós estamos ainda em estado experimental. São produtos que nós entendemos que são importantes para o futuro, mas juntos representam só 10% do que temos hoje”, diz.
Focados, então, em especializar seu atendimento e considerando a importância do setor, a empresa se preocupou em criar características no produto que facilite o desenvolvimento de automação dos processos para seus clientes. “Tentamos buscar quais são as necessidades de automação que esses clientes possuem, como integração com leitor de código de barra, integração com celulares – para que a equipe de vendas no mercado possa ter integração com o sistema etc.”, exemplifica.
Para a empresa, as mudanças no sistema de gestão estão agrupadas em dois grandes grupos: mudanças tributárias, fiscais e trabalhistas; e as novas tecnologias. Scaravelli explica:
“O primeiro são as mudanças tributárias, fiscais e trabalhistas, ou seja, todas as obrigações que o governo está constantemente mudando. Nós diríamos – sem medo de errar – que praticamente todo dia existe alguma novidade ou na área tributária, ou na área trabalhista, principalmente para nós que trabalhamos no Brasil todo – às vezes a gente se depara com uma mudança tributária em determinado estado ou especificamente em um segmento. Isso já é por si só um desafio.
E o segundo desafio são as mudanças tecnológicas. Além das mudanças que o governo sempre propõe, ainda, anualmente, você tem muita novidade. Então, por exemplo, nos últimos anos, têm aparecido novas tecnologias mobiles. Essa é uma coisa que, até alguns anos atrás, ninguém estava ligando para ter produtos que funcionassem em tablets ou smartphones. Agora já é uma necessidade. Quer dizer, você tem que ter teu produto todo integrado a isso”.
“Temos aqui dentro uma área que fica ligada para saber quais são as novidades [tecnológicas], mas ao mesmo tempo preparada para somente adotar ou lançar algum produto quando aquela tecnologia é claramente uma tendência e não simplesmente um modismo que surgiu e que está indo embora”.
“Nós entendemos que se conseguirmos oferecer uma ferramenta que diferencie o nosso cliente dos concorrentes dele, nós estamos ajudando nosso cliente a crescer e então estamos cumprindo nossa missão”.
Inovação
Embora não haja um orçamento fixo voltado para a inovação, focados na segmentação e nos serviços prestados a seus clientes, a empresa criou um grupo especificamente para desenhar processos. A ideia foi maturada por 10 anos, mas o grupo foi criado há três. “Nós criamos uma empresa aqui dentro especificamente para desenhar processos. Nós observamos que muitas empresas que abordávamos não conseguiam utilizar um produto nosso em sua plenitude, porque os processos da empresa eram mal desenhados. Então, percebemos que o produto era subutilizado por falta de experiência do cliente”, conta. Scaravelli explica que é comum entrar em uma empresa e perceber que ela está com um processo não muito bem maturado, então acabam indicando o redesenho dos processos para só depois de bem elaborado efetuar a implantação do sistema.
O executivo entende que a inovação deve ser observada com cautela, uma vez que novas tecnologias são lançadas o tempo todo, porém nem todos se mostram eficazes o suficiente para ultrapassar o modismo e se manter no mercado. Como empresa de tecnologia, Scaravelli sabe que não pode ficar para trás. Ele afirma que a empresa precisa ser cautelosa, porém ágil “para não entrar em todas as modas, porque às vezes uma coisa que se mostra uma tendência em um mês, três meses depois se mostra algo totalmente descartado no mercado”.
Gestão ideal
“Uma gestão ideal é uma que permita que você consiga produzir melhor do que os seus concorrentes. Se você tem uma ferramenta que consegue produzir melhor; ou melhor com menor preço; ou algo com a mesma qualidade, mas um preço inferior que seus concorrentes, daí você tem uma gestão melhorada ou ideal”, essa é a ideia de gestão ideal do empresário. Para ele, nos dias de hoje, é “praticamente impossível” que uma empresa sobreviva à realidade atual do mercado brasileiro sem ter uma gestão unificada e organizada. “Eu diria que há alguns anos isso até era possível, nós estávamos com uma economia que permitia que não fôssemos muito produtivos”, diz Scaravelli. O executivo lembra que os últimos dois anos foram duros para a indústria e que só com eficiência as empresas podem sobreviver a esse período. “É praticamente impossível uma empresa conseguir sobreviver sem ter uma gestão unificada e organizada. Se a empresa não for produtiva, o concorrente dele vai ser e vai fazer um preço menor”, reforça. Scaravelli acredita que a crise oferece oportunidade às empresas se renovarem, mas também crê que em um ou dois anos, após a melhora do mercado, saberemos quais serão aquelas que sobreviverão à “seleção natural” do mercado.
Fusão
Dessa maneira, a Mega Sistemas também aproveitou o momento para se renovar. A empresa conta com cerca de 500 colaboradores e, além da matriz em Itu, possui escritórios no Rio de Janeiro e em Curitiba e uma revenda em Belo Horizonte, com uma rede de, aproximadamente, 200 colaboradores entre representantes e revendedores. Em 2014, o bom relacionamento entre a empresa e seu principal distribuidor do Sul resultou na fusão das duas empresas. Desde então, a Mega Sistemas passa por uma reestruturação interna. “Esse parceiro era um distribuidor para todo o Sul e desenvolvia alguns módulos para o segmento da construção civil. Como nos últimos 10 anos o setor teve um forte crescimento, isso se tornou importante para a Mega. Não víamos mais porque as empresas deveriam estar com dois CNPJ existentes, então fizemos uma fusão. Vimos onde poderíamos ganhar”, explica.
No final de novembro, a reestruturação no quadro de funcionários também foi necessária. “Nesses últimos dois anos, que foram de maior dificuldade de vendas e de ampliação de mercado, nós aproveitamos para reestruturar um pouco nossa empresa, tentar nos tornar um pouco mais eficientes”, explica Scaravelli. Segundo o executivo, a fusão foi a maior motivadora, pois havia colaboradores com funções semelhantes em ambas as empresas.
“Nós estamos nos preparando para um novo momento que a gente espera – ainda não em 2016 –, mas a partir de 2017. Estamos percebendo que muitos dos nossos concorrentes estão enfrentando muitas dificuldades, então nosso objetivo nos últimos dois anos e no próximo ano é ter muito cuidado para deixar a empresa mais eficiente e para que, assim que o mercado se recuperar, tenhamos um ganho competitivo”, conclui Scaravelli. M&F
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