Liderança e inteligência emocional
O equilíbrio é um caminho seguro para resultados positivos
Uma jovem de aproximadamente 28 anos entra no consultório médico para mais uma consulta com o gastroenterologista, especialista que cuida do estômago e do sistema digestório em geral. Ela relata, de forma detalhada, os conhecidos e frequentes sintomas de uma gastrite nervosa, que há tempos vem tratando com esse especialista. Ela já havia realizado os exames que confirmavam seu diagnóstico e estava certa de que o médico iria prescrever um novo medicamento e recomendar os devidos cuidados com sua alimentação, para que ela pudesse se sentir melhor. Eis que o médico pega o receituário e começa a escrever. Para total surpresa da moça, o médico “receitou” um livro: Inteligência Emocional, de Daniel Goleman.
Essa cena pode parecer inusitada, mas é real. Uma infinidade de doenças do corpo possuem como causa original a falta de habilidade no trato das emoções e sentimentos. Já é comprovado que as emoções influenciam nosso comportamento, pensamento, motivação, tomada de decisão e, sobretudo, nosso desempenho profissional.
Atualmente, o mercado e as empresas vivem em uma verdadeira montanha-russa. Administrar os altos e baixos da política e da governança corporativa requer recursos internos tremendos. Nossas competências técnicas infelizmente não são suficientes para que possamos vencer os obstáculos e as adversidades do dia a dia para construirmos e mantermos relacionamentos interpessoais produtivos. Pessoas hábeis em manejar as emoções podem ser melhores no que diz respeito a estimular a motivação nas outras pessoas, o que, em minha opinião, é a principal função da liderança. Estudos revelam que de 76 a 80% da efetividade dos profissionais em alguma posição de liderança vem das competências existentes no conceito da inteligência emocional. Essa é a principal evidência de que o desenvolvimento emocional deve fazer parte da agenda de todo profissional que tenha o objetivo de alcançar a excelência.
O primeiro passo é entender o que é uma emoção. Emoção é um estado mental e fisiológico associado a uma ampla variedade de sentimentos, pensamentos e comportamentos. Trata-se de um primeiro fator determinante do sentimento de bem-estar subjetivo e parece desempenhar um papel central em muitas atividades humanas. Desta forma, as habilidades emocionais funcionam como um valioso jogo de ferramentas para a vida profissional e cotidiana.
A inteligência emocional pode ser entendida como um agregado de capacidades e competências que influenciam a habilidade da pessoa em ter sucesso, lidando com as exigências e pressões do ambiente. Tenho certeza de que inúmeras situações do seu dia a dia já lhe mostraram que de nada adianta um QI altamente elevado e um grande domínio de sua área de atuação, se não soubermos lidar adequadamente com as pressões do ambiente.
Uma pessoa inteligente do ponto de vista emocional é aquela que consegue perceber suas próprias emoções, entendê- -las e usá-las para auxiliar seus pensamentos e ações, e efetivamente regular seu estado emocional para atingir objetivos e promover crescimento intelectual e emocional. De maneira mais objetiva, é a capacidade de atingir suas metas através de sua interação com o ambiente.
Para alcançar essa condição, é preciso desenvolver e aprimorar constantemente as cinco dimensões da inteligência emocional.
A primeira dimensão é a autoconsciência, que se traduz na capacidade de conhecer as próprias emoções. Pessoas autoconscientes identificam o que sentem e conseguem nomear, isto é, vão além das famosas respostas padrão “está tudo bem” e “eu estou estressado”, que parecem dominar o discurso das pessoas quando são abordadas acerca do que estão sentindo. Sabem como funcionam, especialmente nos momentos de tensão e adversidade. Consideram estes sentimentos quando tomam decisões e, por consequência, podem experimentar maior confiança e avaliar suas habilidades de maneira realista.
A segunda dimensão é o autogerenciamento, que representa a capacidade de gerenciar as próprias emoções e impulsos, ou seja, pensar antes de agir. Essa é a habilidade de administrar as próprias emoções e regular o estado emocional mediante a situação que se apresenta. Protelar gratificação para conseguir seus objetivos e adiar retaliação são os mais significativos sinais dessa capacidade e indicam o verdadeiro amadurecimento da nossa personalidade.
A motivação é a terceira dimensão e indica a capacidade de agir com energia e persistir diante de fracassos e dificuldades. Significa ter a capacidade de se mobilizar e mobilizar as outras pessoas na direção de seus objetivos, seguir em frente por razões intrínsecas e manter paixão por seus projetos, independente do nível de dificuldade que eles apresentem.
A quarta dimensão é a empatia, que compreende a capacidade de conhecer as emoções dos outros. A empatia também pode ser definida como consciência social e vai muito além daquele famoso jargão “colocar-se no lugar do outro”. Pessoas verdadeiramente empáticas são capazes de perceber o que os outros sentem, sem emitir julgamentos. Lidam bem com a diversidade e com as diferenças individuais, que hoje constituem a totalidade do ambiente organizacional. Conseguem adaptar a comunicação para combinar com as reações emocionais dos outros e, desta forma, facilitar o entendimento e a interação.
A última dimensão é composta pelas habilidades sociais, isto é, saber lidar com as emoções de outras pessoas e interpretar os relacionamentos e interações de maneira correta. Conseguir negociar e estabelecer cooperação são sinais marcantes desta dimensão e podem ser entendidos como condições básicas para o trabalho em equipe, que hoje é uma das principais estratégias de sucesso que uma empresa pode adotar. Além disso, as habilidades sociais são essenciais para o exercício da liderança, já que tudo aquilo que o líder consegue obter vem das pessoas que estão sob a sua orientação e responsabilidade.
Por mais que você tenha refletido sobre cada uma das dimensões individualmente, elas estão intrinsecamente ligadas e com toda certeza podem ser observadas no comportamento dos grandes líderes. Eu estudo liderança há muito tempo e, nos últimos oito anos, meu trabalho consiste em ajudar os líderes a aprimorarem sua performance e obterem resultados mais efetivos das pessoas. E de todos os líderes com os quais já tive algum tipo de contato, os melhores foram aqueles que sabiam lidar assertivamente com as próprias emoções.
Minha sugestão é que você dedique algum tempo para esse desenvolvimento, seja a partir de leituras, autoanálise, programas de treinamento, processos de coaching ou qualquer outro recurso que lhe permita maior intimidade com as suas emoções. Afinal, só é possível gerenciar aquilo que nos é conhecido. Um grande abraço e até breve.
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