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HANNA: 70 anos de competência técnica e bons relacionamentos

Disposição para ajudar clientes a encontrarem alternativas locais na solução de usinagens de furos de precisão serviu de alicerce para o grande sucesso da empresa no mercado.

Quem conhece um pouco da história econômica administrativa do Brasil sabe da contribuição inestimável dos imigrantes para o desenvolvimento da indústria no país. A cidade de São Paulo, em especial, foi privilegiada por iniciativas de muitos desses empreendedores. Por ocasião das grandes guerras, nosso país se viu impossibilitado de importar peças, componentes e acessórios para a manutenção das máquinas aqui instaladas, o que impedia as fábricas locais de seguirem com o seu trabalho. Em razão disso, alguns empreendedores passaram a desmontar máquinas e equipamentos, analisar, medir, desenhar as peças e produzir por conta própria o material de reposição que necessitavam. De modo rudimentar, empresas que até então produziam enxadas, pás e arados começaram a se arriscar a produzir engenhos mais elaborados. De certo modo, esse foi o embrião da nossa indústria atual.

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Entre os anos 1956 e 1960, Juscelino Kubitschek deu outro grande impulso ao incentivar a instalação de montadoras de automóveis, ônibus e caminhões no país. A chegada dessas empresas estimulou também a vinda de várias indústrias de autopeças, assim como o início de algum desenvolvimento local.

Sem know-how apropriado, as indústrias locais sofriam para produzir produtos de qualidade. A melhoria vinha por conta da assessoria, muitas vezes feitas pelas próprias multinacionais que, paulatinamente, iam pressionando os fornecedores nacionais a se adaptarem às normas internacionais de fabricação, tais como a norma DIN (Deustches Institut für Normung) alemã, ou a norma ISO (International Standards Organization ou International Organization for Standardization) americana.

Muitas dessas empresas se instalaram na cidade de São Paulo e arredores, contribuindo para a formação de um cluster (aglomerado de indústrias afins) da indústria automotiva, que se concentrou em uma região hoje conhecida como Grande São Paulo, que envolve aproximadamente 39 municípios, entre os quais se destacam cidades como Santo André, São Bernardo, São Caetano (Grande ABC), Mauá, Diadema, Ribeirão Pires, Osasco, Guarulhos e Cotia. A prosperidade da região se deve muito a esse desenvolvimento. Entre as décadas de 60 e 70, a região concentrou uma grande população de profissionais metalúrgicos e abriu oportunidades para que imigrantes ou descendentes dos primeiros imigrantes (portugueses, italianos, alemães, espanhóis, sírio-libaneses, japoneses, coreanos, entre outros) se destacassem, por conta da perícia que possuíam em algumas áreas técnicas, cujas habilidades, muitas vezes, já vinham sendo transmitidas de pai para filho desde seus países de origem.

Uma história interessante que ilustra esse cenário é a fundação da HANNA Indústria Mecânica Ltda. A companhia foi fundada em setembro de 1942, em meio à Segunda Guerra Mundial. Naquela época, os fornecedores tradicionais, brasileiros, de máquinas e ferramentas estavam muito envolvidos nesse conflito. Havia a necessidade de repôr os equipamentos importados o mais rápido possível e essas circunstâncias abriram oportunidades para que a manufatura interna se desenvolvesse.

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Em 1942, o Sr. Salim Hanna, nascido no Brasil, era professor de mecânica aplicada e projeto de máquinas nas cidades de Rio Claro e Tatuí, ambas as cidades localizadas no estado de São Paulo. Em paralelo às suas atividades de professor, ele desenhava e construía máquinas manuais especiais em uma ferramentaria na cidade de Rio Claro. Já no ano de 1939, o Sr. Salim já havia projetado e construído a primeira fresadora no Brasil. Com essa máquina e mais um torno manual construídos por ele mesmo, aliados a muita força de vontade e dedicação, o jovem empreendedor moveu-se para a cidade de São Paulo, onde iniciou, por volta de 1942, o seu próprio negócio por meio de uma pequena ferramentaria sob a marca IHL – Irmãos Hanna Ltda. No início, produzia placas para tornos bastante robustas que eram muito apreciadas, principalmente, pelo pessoal da indústria de fundição que carecia de placas mais reforçadas.

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Em torno de 1960, com o estabelecimento das indústrias automobilísticas no país, a Hanna estendeu sua atuação para o desenvolvimento de ferramentas para operações de superacabamento de componentes dos sistemas de freios de automóveis. Houve, também, um período em que produziam componentes sob encomenda para a indústria petroquímica, mercado no qual eram bem sucedidos, contudo a crise do petróleo dos anos 70 os obrigou a desenvolver novas alternativas em termos de mercados e produtos.

Ainda jovens, os três filhos do Sr. Salim (João, Miguel e Eduardo) ouviram do pai que se quisessem trabalhar com ele seriam bem-vindos, contudo seria preciso que eles investissem tempo em pesquisar novos produtos e novas áreas de aplicação para que ampliassem os negócios, pois era preciso que a empresa crescesse para comportar a todos eles, e também pediu que o ajudassem a concretizar o plano de mudar a empresa para o interior.

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De acordo com Eduardo Hanna, o Sr. Salim era um ótimo projetista, muito criativo e adorava um desafio. Por vezes, os amigos o procuravam com algum problema de métodos e processos para resolver, ou alguma empresa com qualquer limitação da área da manufatura, e ele se debruçava sobre a necessidade, projetava e construía uma solução. Projetou e construiu muitos engenhos por puro prazer, outros para prestar favores aos amigos. Seu foco não era vendas, era um apaixonado pela área de desenvolvimento e projetos, e muitas vezes fornecia uma solução pelo preço de custo. Chegou até a fabricar um telescópio, para o qual ele mesmo construiu as lentes.

Miguel Hanna, que acompanhou a entrevista, informou que em janeiro de 1981 a companhia começou a operar em Limeira, a 150 km da cidade de São Paulo, em um terreno de 12.000 m² – hoje com 4.500 m² de área construída que comportam cerca de 155 funcionários. Para a nova planta, trouxeram consigo 10 funcionários que os acompanharam desde a antiga planta em São Paulo, dentre os quais ainda há remanescentes. Como sempre, a empresa continuou a investir em pesquisa e desenvolvimento de novos produtos, sempre tendo em vista os princípios que nortearam não só o êxito da companhia ao longo dos anos, mas o próprio jeito de ser de seu fundador.

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A fim de atender ao pedido de um amigo que havia comprado uma empresa de freios para o filho, na qual se utilizavam brunidores de rolos importados dos Estados Unidos (pois à época não havia fornecedores locais), acabaram entrando nesse nicho de mercado. Os brunidores de rolos servem para dar acabamento em furos de precisão, ao mesmo tempo em que melhoram as propriedades de resistência superficiais dos furos. Com o produto desenvolvido em mãos, começaram a buscar novas áreas de aplicação. Trabalhando junto a empresas que forneciam para a indústria petroquímica, como a antiga Cobrasma – Companhia Brasileira de Máquinas, que produzia espelhos para trocadores de calor (peças que contém milhares de furos de alta precisão) e são utilizados na produção de caldeiras –, além de CBC, Jaraguá, Varga, Caterpillar, Valmet entre outras. Foram aprimorando o produto com o auxílio de sugestões dos próprios clientes, que desejavam um fornecedor local. Isso lhes garantiu o desenvolvimento de muito bom relacionamento com seus clientes, além de fazer dos brunidores um dos seus produtos de sucesso. Eduardo e Miguel relatam que o início dos anos 80 foi muito difícil e houve períodos em que um deles chegava a operar máquina até de madrugada, enquanto o outro faturava, emitia as notas fiscais, recebia, cobrava, fazia as entregas, às vezes, até em outros estados; enfim, arregaçaram as mangas e dedicaram-se de corpo e alma para manter os negócios. Tudo isso sempre sob o olhar do Sr. Salim, em quem sempre encontraram inspiração para continuar. Durante o período de crise, o irmão mais velho, João, engenheiro formado pelo ITA – Instituto Tecnológico de Aeronáutica, afastou-se da empresa por alguns anos e voltou ao mercado de trabalho até que a recuperação dos negócios abriu-lhe a oportunidade de retornar.

Para que se faça uma boa aplicação de um brunidor, é imprescindível que se tenha um furo bem acabado em termos de concentricidade, paralelismo, acabamento superficial e distribuição uniforme de sobremetal. Eduardo relata que, muitas vezes, o insucesso na aplicação de seus brunidores ocorria porque a ferramenta precedente, que em geral são os alargadores, não era de boa qualidade. Por conta disso, decidiram que era melhor investirem na solução completa e, a partir de então, começaram os investimentos para que desenvolvessem seus próprios alargadores. Miguel lembra que, por falta de conhecimento, alguns clientes faziam um furo com uma broca e depois entravam com o brunidor direto, o que sempre comprometia os resultados do brunimento. Na operação com brunidores, não se pode ter falta e nem excesso de sobremetal e a faixa de tolerância é bastante apertada. O brunidor de rolos calibra o furo por meio da laminação das cristas deixadas pela ferramenta anterior, fazendo com que picos se alojem em vales e, com isso, além de oferecer um furo preciso, o faz também mais resistente aos desgastes.

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As pesquisas feitas para chegarem a um alargador perfeito os levaram a estudar, testar e analisar não só uma infinidade de geometrias de corte e microgeometrias de arestas, mas também as qualidades internas e intrínsecas ao metal duro, pois era preciso encontrar a combinação adequada para obter lâminas mais favoráveis às operações de brasagem, mas que ao mesmo tempo fossem resistentes aos desgastes, permitindo, assim, que as ferramentas fossem produtivas além de gerarem a qualidade necessária às operações de brunimento.

João Hanna voltou para desenvolver os alargadores e nesse trabalho contou com o suporte não só dos fornecedores de metal duro e serviços de revestimento, mas também de pesquisadores de universidades como a Universidade Federal de Santa Catarina, que sempre teve tradição na pesquisa de ferramentas para usinagem. De lá para cá, houve um grande desenvolvimento na qualidade das lâminas alargadoras, que passaram do metal duro comum para o metal duro revestido e, posteriormente, para lâminas de PCD (Polycristalline Diamond). Além disso, os processos de fabricação de alargadores se aperfeiçoaram enormemente, por meio de máquinas de eletroerosão a fio CNC (Computer Numerical Control), máquinas retificadoras super precisas, métodos modernos de brasagem, apenas para citar algumas melhorias.

A necessidade de oferecer soluções completas levou a empresa a expandir mix de produtos

A entrada no mercado de alargadores os fez ampliar sua base de clientes, expandindo os negócios para o setor automobilístico e de autopeças. Atuando agora em um mercado extremamente competitivo, no qual custos de produção, redução de tempos improdutivos e parâmetros de corte contam muito. Desenvolveram, também, ferramentas com lâminas intercambiáveis, ferramentas especiais conjugadas, tudo para atender ao ritmo de uma indústria que carece de extrema produtividade. Assim, sempre que possível, deve-se encontrar uma alternativa para se deixar um furo completamente pronto, com chanframentos, alívios e rebaixos, tudo em um único avanço da máquina. É nesse ponto que conta a experiência da equipe de engenharia e desenvolvimento de produtos, pois, ao longo de todos esses anos, foram acumulando expertise para projetar e oferecer ferramentas simples e eficazes para a execução de furos complexos e precisos.

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A busca de materiais mais leves, que proporcionassem carros mais leves e econômicos, pressionou a indústria automotiva a migrar muitas peças do aço ou do ferro fundido para o alumínio. Como trabalham sob o regime de produção em massa e com linhas de produção, praticamente ininterruptas, a partir dos anos 90, os irmãos Hanna começaram a investir, pesquisar e produzir alargadores em PCD. Com milhões em investimentos em máquinas e equipamentos, chegaram ao que hoje pode ser considerada uma fábrica moderna e preparada para fazer frente a quaisquer concorrentes locais ou internacionais.

A iniciativa deu certo e não demorou muito para que começassem a fornecer para indústrias montadoras como a GM, em São José dos Campos, e depois para outras grandes empresas desse mesmo mercado. O contato com a indústria automobilística os levou, mais uma vez, a expandir o mix de produtos, passando a produzir não só brunidores e alargadores, mas também uma variedade de fresas em PCD.

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Atualmente, junto a um time de colaboradores especializados, principalmente engenheiros, técnicos e operadores capacitados, a empresa continua fabricando produtos de alta tecnologia e desenvolvendo soluções completas em engenharia. Só de ferramentas em PCD, a produção mensal atinge várias centenas de unidades, volumes que atestam a boa imagem e reputação que gozam no mercado. Além disso, as instalações fabris contam com máquinas avançadas e precisas que lhe permitem atuar no mercado em pé de igualdade com os líderes mundiais em seu campo de atuação. Tendo por herança a mesma visão de seu fundador, a geração atual segue investindo em alta tecnologia, equipamentos e no aprimoramento técnico contínuo de seus colaboradores. Vandivaldo R. Gomes, consultor técnico comercial, reforça que um dos fatores críticos de sucesso da Hanna é o serviço de pós-venda que oferecem aos clientes, pois não basta produzir e entregar uma ferramenta, mas assegurar que ela será aplicada corretamente e proporcionará o máximo retorno.

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Eduardo se alinha com a maioria dos empreendedores brasileiros quando diz que é preciso uma reforma burocrática e tributária por parte do governo para tornar as empresas brasileiras mais competitivas. Seu discurso não clama por subsídios protecionistas, apenas enfatiza que os atuais níveis burocráticos e tarifários minam toda a competitividade que se possa obter por meio da boa gestão de recursos e processos internos à fábrica. Já que não é aconselhável que o governo adote uma posição protecionista, seria bom também que não atrapalhasse.

Os 70 anos de existência recém-completados pela Hanna em 2012 contribuem para o otimismo dos irmãos Hanna em relação ao futuro da empresa, pois em parte a chegada de novas montadoras e mais o crescimento orgânico do mercado devem abrir novas oportunidades. Contudo, a vivência de tantos anos de mercado, que lhes permitiu vencer tantos desafios ao longo desses anos todos, lhes confere a confiança de que serão capazes de superar qualquer desafio que possa surgir.

Empreendedorismo e visão garantiram a empresa figurar entre os principais fornecedores de soluções para furos técnicos.


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There are 3 comments

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  1. Francisco C Marcondes

    Olá Pablo!
    Agradeço teu comentário e fico feliz que tenhas gostado da matéria.
    Como você sabe atuo no mercado de ferramentas há décadas e ao longo desse tempo tive a oportunidade de conhecer tanto o trabahalho da Hanna quanto o da Adeptmec. Tenho a convicção de que ambas as empresas são importantes players do mercado e, cada uma dentro de suas áreas de competência, têm prestado um grande serviço ao desenvolvimento da indústria mecânica no país
    .
    Espero que na história de desenvolvimento dessa nossa, ainda modesta revista, possamos continuar contando com o prestígio de empresas como a Hanna e a Adeptmec, pois tenho certeza que estaremos contemplando nossos leitores com matérias inspiradoras e interessantes.
    Um grande abraço e mais uma vez obrigado!

    Marcondes.

  2. Pablo de Castro

    Olá Marcondes,

    Parabéns pela reportagem. A bela história da Hanna é digna de registro e serve como fonte de inspiração para os demais empreendedores brasileiros. Nós da Adeptmec temos o orgulho de tê-los como cliente, não só pelo nível de excelência de seus produtos, mas principalmente, por suas pessoas.

    Grande abraço, Pablo

    • manufatura

      Olá Pablo, tudo bem?

      Aqui é André quem fala! Repassei seu texto ao Marcondes para que responda com a eloquência de quem escreveu a matéria.

      Obrigado pela participação! Você sabe bem o quanto essa troca é importante.

      Forte abraço
      André
      M.em Foco


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