Expectativas, necessidades, desejos e algo mais
Quase todas as pessoas já sofreram algum tipo de decepção pelo fato de terem criado ou alimentado uma expectativa que não se concretizou. Com uma facilidade que quase nem percebemos, as expectativas aumentam de tamanho e transformam pequenas frases em promessas, pequenos gestos em demonstrações de compromisso, engrandecem tudo aquilo que poderia jamais sair do básico, do lugar comum.
Uma expectativa é o que pensamos que deve acontecer como resultado do que fazemos, dizemos ou planejamos. Se fazemos o nosso melhor no trabalho, esperamos que nosso desempenho seja reconhecido pelo líder e pelos colegas da equipe. Se nos aplicamos na preparação de um seminário, esperamos que o professor nos dê uma boa nota. Se dizemos para uma pessoa aquilo que sentimos e desejamos daquele relacionamento, esperamos que ela se comporte de forma condizente a esse desejo. Se traçamos um plano para a próxima viagem de férias, esperamos que tudo aconteça de forma que o planejamento seja cumprido.
“Acredito que um dos grandes desafios do desenvolvimento reside na capacidade de preencher nossas principais necessidades sem a ajuda de algo material”.
Criar e perseguir expectativas é bom, é saudável. Para muitas pessoas, é uma forma estimulante de fazer a vida seguir o seu fluxo. Contudo, é preciso estar consciente de que a decepção é inevitável quando as coisas não saem como esperamos. Quanto maior a expectativa, maior é o grau de frustração que ela causa quando não é atendida. Especialmente quando se trata de uma expectativa irreal, ou seja, aquele tipo de situação que nós sabemos racionalmente que não vai acontecer, mas, ainda assim, acreditamos e esperamos que aconteça.
Mas nem tudo o que buscamos se configura como uma expectativa, ela é apenas o primeiro degrau. É preciso entender também o que é uma necessidade e um desejo e como essas situações alteram nosso padrão de funcionamento. Como você já deve ter observado, o ser humano é complexo e dificilmente pode ser compreendido através de conceitos e explicações limitadas.
Necessidade não é algo que se aspira ou se planeja. Tome como exemplo a fome. Você não planeja ter fome, quando percebe, ela já está lá e se o alimento não for concedido com brevidade seu corpo vai começar a apresentar alterações de funcionamento como dor de cabeça, desconforto no estômago, tontura, fraqueza, vertigem e até mau humor. Uma necessidade é algo que precisamos atender para que possamos funcionar bem. E isso não se aplica apenas ao alimento, a água e ao repouso, que traduzem as nossas necessidades básicas.
O psicólogo americano Abraham Maslow nos ensinou que o ser humano tem diversas necessidades e que, de certa forma, vive com o intuito de conseguir atendê-las. O ser humano tem necessidade de se sentir seguro, de ser aprovado socialmente, de pertencer a um grupo, de ser reconhecido, elogiado e valorizado, de realizar coisas importantes e ser lembrado por isso.
Você já reparou o quanto as pessoas tem necessidade de atenção e autoestima?
Uma boa evidência disso é o que acontece nas redes sociais. Funciona assim: você sai do trabalho e se depara com um pôr-do-sol maravilhoso. Então, você saca o celular e tira uma boa foto. Em seguida, publica a foto no Facebook, acompanhada de uma legenda de impacto.
Passados dez minutos, o que a grande maioria das pessoas faz? Volta ao seu perfil para verificar os “resultados” dessa publicação. Em um período de dez minutos, contabilizam-se dez curtidas (cujo símbolo equivale a um elogio), um comentário positivo e afetuoso e um compartilhamento. Por mais que a realidade virtual não tenha a mesma concepção e o mesmo valor que a vida real, fico me perguntando qual é o tipo de relacionamento real que nos proporcionaria dez elogios em tão somente dez minutos. Nem as mães, que amam incondicionalmente seus filhos, fazem tantos elogios em tão pouco tempo.
Por isso, tantas pessoas dedicam um bom pedaço de tempo (e de vida) às redes sociais e a essa realidade virtual. Não deixa de ser uma forma, mesmo que ilusória, de preencher as necessidades de atenção e autoestima.
Agora, quando temos uma necessidade que não é atendida, muito provavelmente ela se transforma em um desejo. O desejo é representado por algo concreto, material, no que acreditamos ser capaz de preencher a necessidade, está ligado ao prazer e traz gratificação imediata.
Quantas vezes não vimos nos filmes e novelas aquela famosa cena na qual o personagem está triste, deprimido e afoga suas mágoas utilizando seu cartão de crédito? Seria muito bom se essa cena se restringisse apenas ao mundo da ficção. Estamos vivendo numa sociedade em que é preciso “ter” para “ser”. As pessoas precisam ter carros bacanas, roupas de grife, telefones de última geração para poderem experimentar (ser) as suas necessidades de poder, autoestima, bem-estar e realização, dentre outras.
Não há problema algum em comprar carros caros, roupas bacanas e aquele smartphone que ainda nem foi lançado, desde que o seu orçamento lhe permita e, principalmente, que esses objetos materiais não sejam comprados com o objetivo exclusivo de preencher necessidades. Quanto mais necessidades pendentes, mais desejos aparecem.
É o que normalmente se observa no comportamento das pessoas que compram compulsivamente. Quase todo o mundo, de vez em quando, compra por impulso, porque isso faz parte da natureza humana. Mas o comprador compulsivo, geralmente, vai às compras para tentar resolver sua tristeza, sua baixa autoestima e suas dificuldades de relacionamento.
Lembre-se: ter desejos só é ruim quando eles visam preencher as suas necessidades. Acredito que um dos grandes desafios do desenvolvimento reside na capacidade de preencher nossas principais necessidades sem a ajuda de algo material. Esteja mais atento às suas experiências diárias e tome o cuidado de valorizar e repetir aquelas que lhe proporcionarem a sensação de segurança, autoestima, autoconfiança, prestígio, poder e reconhecimento. Desta forma, sua vida pode ser mais autêntica e mais barata.
Um grande abraço e até breve. M&F
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